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As Bases de um Poeta Completo

Continuando o processo de migração do conteúdo que eu acredite ser mais interessante do site antigo pra cá, segue este que publiquei em maio de 2012.


Camões falava de Saber, Engenho e Arte em suas poesias. Considero, ao menos em minha interpretação, estas como as três características fundamentais para um poeta completo. Aqui, falo um pouco de cada uma delas na forma como vejo (não há garantia de que seja a forma como Camões pensava, embora ache até possível que de repente tenha sido).

Saber

Um poeta tem que ter o conhecimento do que vai falar. Para poesias filosóficas, conhecer filosofia; para narrar casos acontecidos, traçar bem o que houve. Enfim, tem que ter o tema. Um poeta de muito saber tem jogo de cintura e conhece vários temas. Se for um repentista, tem uma boa desenvoltura temática.

Engenho

Um poeta que não tem noção de ritmo e métrica não é um poeta completo. Essa é a parte que pode “obscurecer” o que o poeta quer dizer, mas é o caminho mais longo o que nos fortalece.

É difícil eu me afeiçoar com poesias modernas, que são poesias para serem declamadas teatralmente e não seguindo um ritmo.

Todas as regras são convenções e podem ser quebradas, mas quem planeja quebrar regras tem que saber o que está fazendo. Regras devem ser seguidas à risca enquanto não as entendemos. Só quando dominamos as regras é que podemos quebrá-las, se quisermos. Nesse ponto, teremos plena ciência de que estamos quebrando onde queremos um efeito diferente do convencional e, para quem também conhecer as regras, isso ficará muito claro.

Um exemplo mais claro dessa postura de conhecimento é a famosa licença poética, que dá liberdade ao poeta para burlar as regras do Português. Erros vindos do desconhecimento nunca foram nem serão licença poética, ela existe para mudanças conscientes nas regras do Português, mudanças que vêm para atender algum interesse do poeta.

Aplique-se o mesmo a métrica, rima, ritmo…

Arte

Esse é o fundamental de um poeta. Isso porque o Saber pode ser adquirido com leitura e o Engenho desenvolvido com o estudo e a prática. Se você tem Saber e Engenho, mas não Arte, produzirá poesias perfeitas estruturalmente, bem organizadas, mas sem vida, incapazes de despertar emoções no leitor.

Por outro lado, é até comum algumas pessoas que têm Arte, mas não Engenho ou Saber. Muitos desses nem tentam fazer poesias, limitando-se a escrever textos muito bem escritos e de agradabilíssima leitura.

Poetas Perfeitos

Um bom caminho para poetas perfeitos é dos violeiros, que desenvolvem a desenvoltura no Saber e aprimoram de maneira sublime o Engenho, quando atentos a ele (pois às vezes forçam métrica esticando sílabas cá e atropelando sílabas acolá). Se o cabra tiver Arte, não há quem segure.

Se quiser aprender mais sobre o Engenho, pesquise os estilos populares. São dos mais ricos e complexos que encontrei.

Para finalizar, uma estrofe de um galope à beira-mar, de Dimas Batista, que demonstra bem a superioridade do violeiro e repentista diante de muitos ditos poetas por aí…

“Eu acho engraçado um poeta de praça
Que passa dois meses fazendo um quarteto
Com um ano de luta, é que finda um soneto
Depois que termina, ainda sem graça
Com tinta e papel, o esboço ele traça
Contando nos dedos pra metrificar
Que noites de sono ele perde a pensar
A fim de mostrar tão minguado produto
Pois desses, eu faço, dois, três, num minuto
Cantando galope na beira do mar.”

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